Patógeneos nos Peixes de Portugal: Micromundo 

03-10-2023

Última Edição: 04-10-2023 | Hora: 19:35 | Autor: Beatriz Mota | 9 min

Como já é sabido, podemos dizer que todos nós humanos possuímos uma diversidade de agentes biológicos no nosso corpo, tal como bactérias, que algumas vezes podem ser benéficas, mas também agentes patogénicos, levando a infeções e bacterioses. Mas, por vezes também podemos nos esquecer que os outros organismos também têm estas condições, organismos que ingerimos na nossa alimentação e que, se não forem avaliados regularmente por profissionais, podem levar a distúrbios no nosso organismo. 

Neste post, iremos dar a conhecer algumas bactérias presentes em peixes que fazem parte da alimentação de grande parte da população portuguesa. 


As bactérias podem ser Gram-negativas ou Gram-positivas, dependendo da composição da sua parede. Portanto, é um facto que as bactérias Gram-negativas são as mais patogénicas nas espécies de peixes. Os primeiros sintomas que são indicadores de infeções nos peixes são os sintomas externos. Contudo, estão muitas vezes ausentes ou sobrepõem-se com outras doenças. Os mais comuns são:

  • Lesões oculares (exoftalmia) e ulcerações;
  • Hemorragias e distensão abdominal (ascite);
  • Erosão das barbatanas;
  • Abcessos;
  • Furunculose;
  • Erosão mandibular;
  • Alguma melanose (quando assintomático). 

Hemorragia em peixe.
Hemorragia em peixe.

Para determinar qual o agente patogénico devemos sempre efetuar uma análise microbiológica em laboratório, nas máximas condições de esterilidade. 

As principais bacterioses em peixes causadas por bactérias Gram-negativas são:

  • Vibriose- Vibrio anguillarum;

  • Pasteurelose- Photobacterium damselae subsp. piscicida;

  • Tenacibaculose- Tenacibaculum maritimum;

  • Furunculose- Aeromonas salmonicida;
  • Doença da boca vermelha- Yersinia ruckeri;

E as principais bacterioses em peixes causadas por bactérias Gram-positivas são:

  • Micobacteriose- Mycobaterium marinum;

  • Estreptococose- Streptococcus parauberis;

  • Lactococose- Lactococcus garvieae.

Vibrio anguillarum

Afeta principalmente os seguintes peixes: enguia, salmão do Pacífico e Atlântico, truta, dourada, robalo, pregado, peixe-gato, tilápia, bacalhau e existe ainda casos descritos em muitas outras espécies de peixes marinhos. Esta bactéria também pode afetar numerosas espécies de moluscos e crustáceos, incluindo espécies de interesse comercial como a ostra, amêijoa, lagosta e camarão. Assim, é basicamente ubíqua em ambiente marinho.

Em Portugal é frequentemente isolada em robalo, dourada, pregado, linguado, solha e goraz. 

Photobacterium damselae subsp. piscicida

Na zona mediterrânea, incluindo PortugaL, afeta principalmente as seguintes espécies de peixe:  dourada, pregado e robalo. Além disso, também tem incidência no Japão, essencialmente em Lírios (Seriola sp.), Ayu e Mero. Mas também muitas outras espécies marinhas são afetadas, em maior ou menor grau. Esta bactéria tem sido responsável por perdas elevadas em aquacultura (40- 50%)

Tenacibaculum maritimum

Esta espécie está praticamente restrita a espécies marinhas, tanto peixes de aquacultura como peixes no meio natural. Entre os peixes cultivados, algumas das espécies mais afetadas são: pregado, solha, robalo, dourada e várias espécies de salmonídeos. A doença afeta tanto juvenis como adultos, sendo os juvenis mais suscetíveis. A mortalidade associada é elevada e rápida (frequentemente até 10% da população/dia).

Aeromonas salmonicida

Inicialmente pensava-se que esta bactéria estava limitada a espécies de salmonídeos de água doce e salgada. Atualmente serão poucas as espécies de peixes que não são suscetíveis a esta bactéria. O número de hospedeiros não salmonídeos tem vindo progressivamente a aumentar devido ao grande número de estudos epidemiológicos realizados. Deste modo, a bactéria tem sido isolada a partir de peixes de água doce, salobra e salgada. Geralmente os furúnculos são os primeiros sinais visíveis da doença, o que torna extremamente difícil o seu tratamento, uma vez que nessa fase as lesões internas já são muito extensas. 

Yersinia ruckeri

Esta bactéria é praticamente restrita a salmonídeos. Assim, afeta fortemente a produção de salmonídeos nos países nórdicos e EUA. Contudo, algumas espécies de não-salmonídeos, como robalo, rodovalho, carpa, arenque e pimpão parecem ser sensíveis. Em Portugal tem sido isolada de truta arco-íris e da água e sedimento de rios a jusante de pisciculturas. A infeção por Yersinia ocorre principalmente através das brânquias, linha lateral e trato digestivo. 


É fundamental conhecer os agentes patológicos que existem nos nossos animais e fontes de alimento, para que nos possamos proteger de possíveis doenças e também proteger o ambiente no qual estamos inseridos!

Beatriz Mota - Blog
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